Uma vez eu conheci uma mulher incrível. Jazebel, era o nome dela, tal qual a figura histórica e mítica. Lembro que achei o nome engraçado e comentei fazendo alguma piadinha com a princesa fenícia, mas ela me olhou séria e com tom de repreensão.
Conheci Jazebel numa mesa de botequim, ela com um cara numa mesa próxima, me olhou e mostrou interesse. Parecia que estava brigando com o cara ou sacaneando ele por algum motivo. Ela não estava nem aí para o cara e eu como não ligava para honra nessa época – hoje eu juro que ligo – e já havia bebido bastante, correspondi. Foda-se o cara. Trocamos telefones. Saímos.
E aí começou tudo. Tudo de ruim e de bom que você possa imaginar.
Eu morava sozinho em um bairro bacaninha porque tinha um emprego bacaninha que conseguia pagar essa vida. Ela morava sozinha em um bairro imundo, ou pelo menos ela dizia isso – já que nunca fui na casa dela para confirmar. Depois de dois uísques vagabundos em um botequim qualquer, chamei ela lá para o apartamento bacaninha e ela topou, claro. Topou e quando chegou já nos agarramos na porta, e tiramos a roupa um do outro. Dela não havia muito o que tirar porque ela já estava sem calcinha e com pouquíssima roupa.
Transamos, ou melhor: fodemos. Fodemos sem pudor, sem frescuras e sem limites. Sorvemos um ao outro como alguém vagando no deserto sorve água em um copo sujo. Rápido e sem respeito. Ao final ela me bebeu até a última gota, lambendo os lábios com um sorriso sarcástico quando terminou.
Depois foi mais do mesmo e em pouco tempo ela já dormia mais no meu apartamento bacaninha do que na casa dela. A certa altura comecei mesmo a duvidar que ela sequer tivesse uma casa para morar, já que aparecia por aqui nas horas mais improváveis para alguém que trabalhava. Cheguei a pensar que talvez ela não trabalhasse de fato. Talvez sua vida inteira fosse uma mentira, mas não importava. O que importava eram nossas fodas.
E como fodíamos! Sempre sem pudor, sempre sem limites.
Mas então em certo ponto que não lembro qual foi – eu sempre estava bêbado nessa época – ela começou a mudar. Depois que comíamos um ao outro ela passou a ficar mal-humorada, começou a fazer exigências babacas e querer sair para passear. Disse uma vez que eu a tratava como uma puta e que só a queria para sexo ou para tomarmos porres juntos. Como eu nunca fui de mentir, falei na cara dela que era isso mesmo, mas que eu faria o esforço de levar ela para passear, se ela assim desejasse. Pedi apenas que não fossemos muito longe de casa, porque como andávamos muito bêbados o tempo todo, talvez não achássemos o caminho de volta depois.
Então começamos a rodar pela cidade, cada vez mais longe e cada vez mais bêbados.
“Cansada do seu pau”. Ela disse isso um dia quando estávamos sentados em um botequim equilibrando nossas cabeças de bêbados apoiando nos cotovelos. “Cansado de você me enchendo o saco”, respondi.
Ela me deu um tapa na cara, ali mesmo no botequim. Meu sangue ferveu, mas consegui manter a calma. “Quer ver eu dar pra outro? ” Ela disse com ar debochado. “Pode ir” respondi de imediato dando de ombros.
Imediatamente ela começou a insinuar-se para um cara gordo numa mesa próxima. O cara era gordo, suava muito, estava mais bêbado que nós, tinha as mãos e as roupas sujas como as de um mecânico e sorria para ela. Jazebel levantou e sentou-se na mesa com ele, colocando os braços em volta dos ombros daquele monte de lixo. “Sou melhor que esse babaca e consigo uma mulher melhor”, pensei.
Joguei o dinheiro em cima do balcão pagando nossas bebidas e levantei. “Pode ficar com o troco”. Enquanto saía do bar pude ver os dois caminhando em direção ao fundo do botequim, provavelmente para o banheiro.
Entrei em casa sozinho pela primeira vez em semanas. Não transei pela primeira vez em semanas. Nunca mais vi Jazebel.
Que mulher incrível.