Nos conhecemos por acaso, e por acaso nos falamos, por acaso gostamos um do outro e também assim demos início à nossa história. Como um pequeno livro daqueles de final previsível, escevemos dia após dia as páginas de um amor de apenas quinze semanas.
Tudo era delicado com ela. Sua voz era suave e leve como seus cabelos, juntos éramos diferentes de tudo o que eu já tive. As rotineiras relações que mais pareciam tempestades furiosas pareciam um passado distante – com ela havia apenas calmaria e sutileza.
Desde o primeiro dia passei a chama-la por um pedaço do seu nome, ela dizia que isso era “fofo”. Aliás tudo pra ela era “fofo”. Gatos, cães, crianças… toda a beleza do mundo não passava despercebida pela retina da menina que me tirou da tempestade.
Taças de vinho, conversas sobre poesias e livros, gargalhadas e lárgimas assistindo séries. Como uma universidade, um “bacharelado em sensibilidade”, fazíamos nossas aulas juntos todo dia.
Então um dia ao me olhar no espelho pela manhã percebi que estava um pouco menor, em estatura. Uma coisa estranha, quase sobrenatural. Achei que pudesse ser algo da minha cabeça e não dei atenção. Mas nos dias que se seguiram a coisa piorou dramaticamente ao ponto de eu precisar usar uma cadeira para alcançar a pia e escovar os dentes.
Para ela tudo estava normal. Mantínhamos a mesma rotina e ela agia como se nada de errado estivesse acontecendo. O mergulho em nós dois e a rotina suave dela era o suficiente para a plena felicidade da moça.
Um dia eu me percebi tão pequeno que não conseguia sair mais de casa! Fiquei apavorado, dependente e vulnerável.
Pulei a janela com ajuda de um armário próximo, e nunca mais voltei. Acordei no dia seguinte, coloquei os pés no chão e um alívio transcedental me veio quando senti que havia voltado ao normal.
Não sei o que pensa a amiga leitora, mas eu vou lhe dizer o que eu penso: as tempestades são melhores que os desertos calmos, silenciosos e sem vida.
Fabricio