Um dia enquanto tomávamos duas taças de vinho prometemos algo incrível, um ao outro. Não como a construção do muro idealizado por Odin, nada tão grandioso ou que exigisse tanta força.
Prometemos algo mais parecido com a exigência do gigante para o senhor da guerra. Nos prometemos o sol e a lua, isso mesmo. A luz dourada do dia e a sensualidade silenciosa da noite. Selamos a promessa naquele dia ao nosso modo, e seguimos com nosso plano ingênuo caminhando pela estrada tortuosa e difícil de repartir nossas horas e fazer convergirem os sonhos.
Os sonhos não convergiram e embora houvesse muito esforço de minha parte, um dia percebi que havia algo errado com as promessas. Algo nas entrelinhas que eu não percebi no momento do pacto, talvez resultado de uma racionalidade míope pelas taças de vinho. Mas talvez resultado de algo mais sutil e maquiavélico, digno da sutileza sedutora de Loki.
Resolvi cobrar o combinado. Queria o sol e a lua, o dia e o manto da noite escura. Queria o que havíamos prometido. Era nosso por direito.
Então percebi a verdade inexorável que sempre esteve ali. Não havia nada para receber, nada para ser entregue e nem mesmo direito algum. Não há salvação para os ingênuos pedidos e promessas feitos em meio a olhares, sorrisos, vinho e amor. Não há tribunal onde se possa recorrer de perdas trazidas pelo amor e pelo estado de demência que com ele caminha de mãos dadas.
Então assim como as palavras escritas na areia são desfeitas pelas ondas, tudo o que éramos se desfez dando lugar ao caos. Após o caos, o nada. Até nos tornarmos desconhecidos.
Daqueles dias de promessas ingenuamente verdadeiras e de amores efêmeros, guardo em mim apenas as lembranças boas de um sol e uma lua que nunca foram meus. Na possibilidade imprevisível de estar lidando com Hela ou com Loki, prefiro o refúgio atrás da segurança dos muros cuidadosamente construídos em três estações.
Fabricio