Alta, pele coberta por suor e brilho, purpurina pelo rosto e pelo corpo. Respiração ofegante, delatando as horas de folia pelos blocos, como uma atleta realizada ao final de uma maratona.
Hermética, alta e com uma sensualidade que transbordava os limites do tecido. Havia uma sutil insegurança – fisgada apenas por olhos mais sensíveis -, muito bem disfarçada pelo olhar seguro, pelos gestos suaves e pelo avançar decidido.
Fixei os olhos naquela imagem. Não era sensual, era além disso, era mais que isso. Era uma alma que não pertencia a nada ou a ninguém.
Ainda que eu tentasse de todas as maneiras disfarçar meu olhar, falhei. Ela percebeu e veio caminhando pelos paralelepípedos em minha direção. Fiquei imóvel olhando-a passar sorrindo, sem parar.
Naquela fração de segundo em que escolhemos intervir no curso natural de uma gota d’água ou nos mantermos à margem dela sem agir, eu preferi o caminho da não ação. Preferi não quebrar o equilíbrio perfeito daquela cena, da mulher da minha vida caminhando com toda a beleza que há no mundo, indo embora naquele último dia de carnaval.
Deixei-a guardada no melhor lugar onde ela poderia estar. Uma lembrança de uma tarde de carnaval no Rio. Envolta em véus de sonhos e uma criatividade gostosa do que poderíamos ter sido.
Fabricio