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Sobre a burrice

Uma vez eu estava nestas minhas andanças que tinham como único objetivo degustar whisky barato e conseguir sexo, bem longe de casa. Sentado em um bar já vazio conversando com o barman, ouvi dele uma história tão incrível que seria difícil de acreditar. Ele jurou pelo filho dele, que era anão e havia nascido de um relacionamento extraconjugal que a tal história era verdade.

Ele me contou sobre um município chamado “Borá” em São Paulo, que passou por um curioso caso de histeria coletiva ou algo equivalente.

Em Borá durante muito tempo a população conviveu com coisas boas e ruins na cidade. Ruas que eram asfaltadas e outras que precisavam de asfalto. Pessoas menos abastadas e mais abastadas, grandes detentores de terra e pessoas com dificuldades para manter-se. Escolas boas e outras ruins e obviamente bons e maus políticos conviviam na pequena câmara municipal.

A pequena população de pouco mais de oitocentos cidadãos vivia em constante preocupação com escândalos de corrupção e buracos no piso do coreto da praça, que atormentavam a todos.

Um dia um certo político que nunca havia roubado nada recomendou à população de Borá que criassem contas no Facebook, “porque o mundo todo estava lá e os moradores não poderiam ficar para trás de tamanho progresso”. Borá tornou-se assim a cidade com maior percentual de habitantes participando do Facebook no mundo, com mais de noventa por cento de sua pequena população devidamente informatizada e compartilhando memes absolutamente inverossímeis e patéticos.

Divertiam-se com vídeos, riam de pequenas tragédias alheias, invejavam viagens alheias e também ficavam com medo de notícias que viam lá, tudo forma de memes muito criativos. Começaram a fechar suas janelas à noite porque um certo meme avisava sobre a ameaça das janelas abertas, que permitia a entrada das mais horríveis criaturas entre as duas e as quatro da manhã.

Depois pararam de comer carne de boi que não mugia, porque um outro meme avisava sobre o perigo na carne do gado que não possuía o hormônio do mugido. Depois pararam de enviar seus filhos para a escola em dias ímpares, porque nestes dias havia a ameaça da invasão de insetos venenosos nas escolas.

E assim apenas alguns anos depois da maravilhosa informatização dos moradores da pequena Borá, ruas estavam vazias e quase ninguém mostrava o rosto nem de dia nem de noite.

Borá obviamente acabou. Ou acabaram com Borá. O que o leitor preferir.

Ao final do meu porre, antes de ser posto porta afora do bar por seguranças truculentos e fortemente armados (com fuzis de modelo “T4”), o meu amigo barman me confidenciou sorrindo que aquela não era uma história ocorrida. Era ao invés disso, uma história do futuro.

Fabricio

Um comentário
  1. Camila

    Gostei muito desse! Sensacional! E eu não esperava esse desfecho. Me vieram todas as fake news e este momento bizarro que estamos vivendo. Resistimos!

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