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Velho

Então havia esse velhinho, descendo a rua.

Roupa engomada, chapéu antigo e vinco na calça social. Como se tivesse sido importado dos anos quarenta diretamente pra cá, pra essa rua. Andava devagar como alguém que não tem pressa porque sabe do destino inexorável que o espreita na próxima década.

Nas costas o peso de toda uma vida vivida, de amores vividos, de filhos criados, de noites passadas em claro, de lágrimas de felicidade e de pranto por perdas que o destino lhe trouxe. Tantos aniversários, tantos natais, tantas velas sopradas com pedidos, tantos sonhos sonhados, tantos beijos não dados.

O semblante calmo, os olhos levantando devagar ao cruzar com o menino. Acenou com a cabeça – um “boa noite” silencioso.

“Vai menino, vive”. Pensou, como alguém que vê a si mesmo numa máquina do tempo, num espelho que mostra o passado cheio de possibilidades apontando para hoje.

Sorriu, seguiu.